Lindsey A. Torre et. al. realizaram um estudo para avaliar a mortalidade por câncer de vesícula biliar em vários países. Observaram que estas taxas estão diminuindo na maioria dos países e aumentando em alguns outros, desenvolvidos, após décadas de redução desse índice. O estudo foi publicado na edição de março da Clinical Gastroenterology and Hepatology.

O câncer de vesícula biliar é um dos poucos que apresenta maior incidência em mulheres. Algumas taxas de maior incidência foram observadas em descendentes indígenas das Américas. Os pesquisadores estudaram padrões globais dos óbitos por esta patologia, separados por sexo, utilizando informações de mortalidade da Organização Mundial da Saúde. No grupo das mulheres houve maior taxa de mortalidade, quando comparada ao grupo dos homens, em 22 dos 48 países analisados.

Ao longo desta última década, as taxas de óbitos por esta doença reduziram significativamente na maior parte dos países, quando se analisaram os sexos feminino e masculino separadamente. Para as populações que apresentavam taxas elevadas de óbitos por câncer de vesícula biliar – por exemplo: Chile, República Tcheca, Polônia -, as reduções variaram de 2 a 3% ao ano. Entretanto, em outros países como Croácia e Grécia, as taxas repetiram o padrão de crescimento. Outros países apresentaram os primeiros aumentos nas taxas de óbitos por essa doença, como no caso do Reino Unido e Alemanha.

Lindsey A. Torre  et. al. explicam que há fatores de risco que podem explicar essa variação, como a predisposição genética a formação de cálculos biliares em chilenos e índios, podendo ser essa uma importante associação às altas taxas de mortalidade. Há ainda malformações congênitas do trato biliar, mais comuns em asiáticos, que aumentam o risco de câncer na vesícula biliar, por inflamação crônica deste órgão.

Não há nenhum dado que associe consistentemente o risco de câncer biliar a fatores dietéticos, porém, a variação geográfica de hábitos alimentares pode contribuir para esta variação. Afinal, fatores de risco para câncer na vesícula biliar incluem obesidade, diabetes, consumo de sacarose e de bebidas açucaradas. O uso de estatinas pode reduzir o risco desta doença, já que há inibição da biossíntese de colesterol hepático e da secreção de colesterol biliar.

Em um editorial, que acompanha o artigo publicado, Tomonori Matsumoto e Hiroshi Seno mostram a importância desse estudo, já que elucidou tendências temporais dos óbitos por câncer de vesícula biliar. A mortalidade por esse câncer diminuiu significativamente durante décadas, estabilizando-se ou revertendo-se após longo período de observação. Reiteram ainda a importância de manterem pesquisas, buscando elucidar os motivos pelos quais estas taxas voltaram a ascender.

TORRE, Lindsey A. et al. Worldwide Burden of and Trends in Mortality From Gallbladder and Other Biliary Tract Cancers. Clinical Gastroenterology And Hepatology, v. 16, n. 3, p.427-437, mar. 2018.